quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

À CONVERSA COM ANTÓNIO ARAÚJO

Desde já peço desculpa pela publicação tardia da entrevista desta semana, facto que se deve principalmente à ausência de tempo causada por motivos pessoais.

«A MELHOR PRESTAÇÃO DA EQUIPA FOI O PRÓPRIO CAMPEONATO QUE FEZ»

O entrevistado desta semana do "À Conversa com..." foi António Araújo, treinador dos Juvenis do Hóquei do Desportivo da Póvoa.

Natural de Moçambique, falou-nos de diversos temas, tais como (já sendo habitual) a sua origem no hóquei em patins. Os melhores e piores momentos, bem como as dificuldades encontradas este ano, quando se deparou com a equipa juvenil , e ainda outros comentários gerais acerca da equipa.

Foi destacado o empenho e colaboração de todo o plantel juvenil.



ENTREVISTA NA ÍNTEGRA


Olá Araújo e em primeiro lugar muito obrigado por teres aceite o nosso convite e também por teres disponibilizado o teu tempo para esta entrevista. Visto que és treinador, a tua carreira ligada à modalidade deve ter um grande historial. Quando, como e onde se deu a iniciação ao hóquei em patins?

Olá Miguel,
Em primeiro lugar as minhas desculpas por só agora te responder, mas não deu para o fazer antes.
Respondendo à tua pergunta/perguntas começo por dizer que comecei a andar de patins por volta dos 4 anos, na garagem do meu prédio em Moçambique, agarrado aos muros. Foi uma coisa rápida e passado uns dias já andava sem "apoios".
Passado uns tempos (não sei quanto), um vizinho quis levar-me para treinar na Académica da antiga "Lourenço Marques" (hoje Maputo), mas como eu tinha vergonha (porque no meu bairro não havia tradição de hóquei em patins, era mais Basquetebol e Futebol) e aparecer um puto a andar de patins era um pouco estranho, não fui à primeira, mas só passados uns tempos quando o próprio treinador, avisado por um vizinho meu e por outros motivos que agora não interessam, me veio buscar e eu não tive como dizer que não. Portanto, e a par de outras histórias pelo meio, mas sei que o espaço é curto, foi desta maneira que começou a minha carreira e na Associação Académica de Moçambique a nível oficial.



Durante a tua carreira como jogador, tiveste de certeza momentos bons e menos bons. Qual foi aquele que mais te marcou pela positiva e também pela negativa?

Eu podia enumerar vários como podes calcular, mas o primeiro momento que me marcou positivamente foi a primeira chamada à selecção de "Esperanças " na altura. Tinha eu 16 anos e foi na festa de despedida/homenagem a alguém que para mim foi um dos melhores jogadores de sempre :FERNANDO ADRIÃO - infelizmente já falecido. Este foi o meu primeiro momento de "Glória" se assim se pode chamar...mas tive mais felizmente, muitos mais como o primeiro campeonato de Iniciados conquistado também em Moçambique. A partir do primeiro, os seguintes são também importantes mas já não te marcam tanto... Os prémios individuais, as chamadas às selecções em Moçambique, isto tudo ainda nas camadas jovens, ainda em Moçambique.
Chegado a Portugal, vim para a Póvoa e para o CDP em 1976, onde não cheguei a fazer uma época inteira por motivos que agora não interessam. Recebi, juntamente com 2 outros jogadores do CDP, um convite para irmos jogar para o "Juventude de Viana", clube que ainda se iria formar, o que aceitamos, e eu acabei por jogar lá durante 10 anos e como calculas, após 3 anos subimos à 1ª Divisão, foram muitos os momentos espectaculares passados neste clube onde éramos uma verdadeira família, tendo eu sido chamado aos treinos da Selecção Nacional que nesse ano ia disputar o Campeonato do Mundo na Argentina. Lembro-me que também foram convocados pela 1ª vez o Vítor Hugo, Vítor Bruno e outros dos quais já não me lembro, sendo que ainda hoje sou bem recebido em Viana e a par da Académica foram os clubes que me marcaram mais como jogador...
Pela negativa, os dois momentos que mais me marcaram, foi um em Moçambique numa final dum Campeonato Provincial em que me lesionei com gravidade e pela mesma razão a lesão que tive quando cheguei a Portugal, onde também estive parado algum tempo. A nível desportivo e como jogador que foi o que me perguntaste também foi em Moçambique onde em Júniores pela 1ª vez uma equipa iria ser penta-campeã, perdemos na final para outra boa equipa..a par disto momentos menos bons, são todos aqueles em que fui derrotado, que felizmente foram muito menos do que os outros... tudo isto ainda como jogador.



Este ano vieste para o CDP treinar uma equipa que desconhecias, os Juvenis. Quais foram as maiores dificuldades encontradas até agora no comando desta jovem equipa?

Como treinador comecei sempre por baixo (escolinhas), portanto, não foi nada de novo para mim e quando o Padrão me colocou o desafio, nem pensei duas vezes em voltar ao CDP, sendo que da primeira vez que ele me abordou nem sabia que escalão iria treinar. mesmo depois de saber que seriam os Juvenis, não coloquei nenhuma condição prévia... indo direito à tua pergunta, desconhecidos não eram de todo, visto eu a época passada ter visto 2 ou 3 jogos de juvenis, mas não conhecia todos os jogadores além de que ia ver como mero espectador e não como treinador.
Sempre gostei de desafios e como tal este é mais um que enfrentei e por acaso, não o mais difícil, pelo que a maior dificuldade que encontrei foi com o decorrer da época e no número de unidades de treino por semana que temos, aliado ao curto número de jogadores que constitui o plantel, estes foram/ são os dois factores mais negativos que enfrentei no CDP, juntamente com as lesões que foram acontecendo ao longo da época mas com o empenho de todos aliado à elevada assiduidade aos treinos, ultrapassou as minhas melhores expectativas,pelo que aproveito para agradecer a todo o plantel a colaboração e entrega que têm demonstrado até aqui.



Para essa mesma equipa, os Juvenis, o Nacional esteve à distância de um empate em Infante Sagres, mas que não foi alcançado. O que poderá ter faltado nesse jogo decisivo?

No jogo decisivo não faltou absolutamente nada e quem me conhece sabe que não gosto de perder nem nos treinos e como tal não vivo com vitórias morais mas com tudo o que disse anteriormente esse jogo de que falas foi porventura dos mais conseguidos que fizemos, e como tal, nada mais pudemos fazer contra um adversário que nos foi superior, nada mais.
Em minha opinião o jogo que mais acusámos foi o de Paços de Ferreira , onde a equipa começou a pensar nele muito cedo , por muito que eu quisesse tirar carga psicológica da cabeça dos jogadores, não o consegui e também porque a certa altura deste jogo eu quisesse arriscar ganhar o mesmo e umas vezes dá resultado, outras não, por isso faço aqui a minha culpa, porque também tomo decisões que à posteriori se verifica não terem sido as melhores, mas ás vezes tem que se correr riscos, que como os meus jogadores sabem, para perder por poucos ou empatar não contem comigo...



Por último, este ano se tivesses de escolher a pior e a melhor prestação da equipa que treinas, qual seria?

Começando pela pior, não tenho nenhuma especificamente, mas várias e os jogadores sabem tão bem quanto eu ao que me refiro - certas exibições da equipa mesmo ganhando porque no aspecto exibicional eu gosto de ver uma equipa jogar bom hóquei porque quanto melhor se jogar estamos sempre mais perto da vitória e os jogos com o Olá Mouriz e Fânzeres em certos períodos foram muito maus a nível exibicional. Sei também que é mais difícil motivar os jogadores para jogos com equipas que " teoricamente " e á partida são mais fáceis mas temos que os encarar todos da mesma maneira, só assim se fortalece quer o espírito de equipa , quer o espírito ganhador de uma equipa.
A melhor prestação foi a própria equipa ter feito o campeonato que fez, e como disseste ficar a um ponto do "Nacional" , que surpreendeu muita gente incluindo eu próprio .

Esta equipa superou as minhas melhores expectativas e se no início da época me dissessem que iríamos ficar em 4º lugar, com os mesmos pontos do 3º, e com a diferença de um golo, realisticamente, não acreditava.
Dito isto, aproveito desde já para agradecer a todo o plantel sem excepção o empenho e colaboração que todos sem excepção têm demonstrado, incluindo os atletas que estiveram / estão lesionados, nomeadamente o Luís e o Gonçalo, que se encontra lesionado há bastante tempo, mas que tem acompanhado sempre os restantes colegas de equipa.
Por tudo isto aproveito para dizer que é um orgulho para mim liderar um grupo como este.
Um abraço a todos e muito obrigado.